OS DEZ MANDAMENTOS E A SUA IMPORTÂNCIA

O texto com os Dez Mandamentos talvez seja o mais mal compreendido de toda Bíblia.

Pois, a ele, costuma ser atribuído apenas o sentido da imposição de obrigações e proibições.

Mas, a palavra hebraica para “mandamento” (mishpat), bem como a palavra para “lei” (torá), não tem na bíblia o sentido jurídico e policial, psicologicamente perseguidor e ameaçador que tem aos nossos ouvidos ocidentais.

Elas significam, na alma da língua hebraica antiga, uma “mensagem”, uma “carta”, um “ensino”, “instrução”, “orientação”, até mesmo um “apelo”, “chamado”, “proposta” ou “pacto”.

Da mesma forma a palavra “não” (loh) foge do sentido meramente restritivo, proibitivo e punitivo que tem em nossa cultura literalista ocidental.

Ela significa algo como “não convêm”, “não é bom”, ‘vai dar errado”, “vai haver problema”.

Além disso, tem havido na mente de muitos uma grande separação entre o Antigo e o Novo Testamento, criando a impressão ou a noção de dois “deuses”, um justo e severo, outro amoroso e perdoador.

Infelizmente o Decálogo (Dez Mandamentos) tem sido ligado mais à primeira noção do que a segunda.

É muito bom para nossa alma saber que a lei foi o instrumento que Deus usou para se aproximar do seu povo bem como para fazê-lo se aproximar dEle.

Deus gosta de aconchego e a lei é o aconchego de Deus para com o povo.

Certamente, isso faz um enorme bem para a nossa alma e nos traz a paz de que tanto necessitamos.

Portanto, se Deus não desejasse aproximação e aconchego, bastaria não se incomodar em preparar lei alguma para seus filhos extraviados.

Se o fez é porque seus motivos eram muito fortes e bons.

Assim entendemos que a lei era a forma antiga da graça que culminou naquele que cumpriu toda a lei, o próprio Jesus (Mt 5.17-18).

É surpreendente e maravilhoso encararmos a lei como um vínculo com Deus e não como uma ameaça ou uma “prestação de serviço”, do qual ele sente falta.

Além disso, a lei servia para Deus diferenciar seu povo dos demais.

Deus escreveu uma carta ao ser humano, uma carta com dez itens.

Portanto, nela quer apresentar-se, dizer quem ele é, atrair nossa atenção e, didaticamente, propor-nos o seu maravilhoso pacto de amor e cuidados, aos invés de apenas mostrar sua autoridade sobre nós.

Os primeiros mandamentos se referem a nossa relação com Deus.

Eles consolidam o lugar de Deus como Deus único, criador e sustentador de tudo o mais.

Nada lhe pode encobrir, a sua posição exclusiva não deve ser confundida em hipótese alguma.

O quinto mandamento se refere à relação com os pais, e completa o fundamento necessário para os desafios que vêm a seguir.

Os últimos cinco mandamentos são de ordem moral, expostos num resumo impressionante, que podem aprimorar o caráter e sustentar a vida em sociedade.

Os mandamentos surgem no deserto para aprofundar a libertação, para libertar-nos de nós mesmos, dos “faraós” e “feitores”, que querem escravizar-nos a nós mesmo, aos outros e ao ambiente.

Mas o meu encontro com Deus em Jesus Cristo transforma a minha relação com a lei.

Já não preciso cumpri-la por medo de ser castigado (como faço com os sinais de trânsito), mas posso reconhecer nela o amor do doador da lei.

Nesta perspectiva, estudiosos como J. Loder ressignificam os Dez Mandamentos assim:

Visto que o Senhor é meu único Deus que me tirou da escravidão , EU NÃO PRECISO: adorar outros deuses, fazer imagens, ajoelhar-me diante de ídolos, usar seu nome com desrespeito.

EU POSSO: guardar o sábado, honrar pai e mãe. EU NÃO PRECISO: matar, adulterar, roubar, dar testemunho falso, cobiçar casa, mulher/marido e coisas de outra pessoa.

Por fim, cabe ainda lembrar que Jesus Cristo não só encarnou todo o cumprimento das leis do Antigo Testamento, como lhes deu um entendimento ampliado (ver sobretudo Mt 5, 6 e 7).

Por isso, para nós estas determinações permanecem como alvo e propósito de vida.

Entretanto, agora sabendo melhor das nossas limitações, as tomamos como incentivo para recorrermos sempre a graça de nosso amoroso Salvador.

 

Texto extraído de: Bíblia de Estudo Conselheira (Quadro: Os Dez Mandamentos).

 

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Thiago Amorim

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